segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ARRUMANDO AS PEÇAS






ARRUMANDO AS PEÇAS: o lúdico, o artístico e o terapêutico na técnica do mosaico
Na técnica que fragmenta cacos, na obra que se transforma na expressão da criatividade, na regra criada por cada um no momento da escolha da imagem, na obra que se transforma, na arte de rejuntar o todo está o mosaico auxiliando a cada um a congregar as suas partes numa obra “única”.
Quando o mosaico é construído, as partes internas das emoções profundas que estão adormecidas e que podem estar sendo marcadas por súbitas modificações fisiológicas aparecem reestruturando as partículas e proporcionando um prazer imenso ao visualizar a peça do mosaico terminada.
O processo da técnica dessa arte milenar considerada como “obra da eternidade” de quebrar e restaurar reflete sobre a nossa própria caminhada: sentimentos ou afetos que perdurarão como matrizes de longa duração, experiências sensoriais no toque da matéria prima, maravilhas compostas pelas cores, disciplina ao organizar e selecionar as “peças”, e principalmente o exercício da paciência como maneira adequada para resolver situações conflituosas. Tudo inteiro/partido/rejuntado, como um grande mosaico.
“ Trata-se de um caminho feito de cores e de formas, repleto de significado. Este caminho, às vezes, é longo, às vezes é cheio de obstáculos, obrigando a recuos e paradas...Por ele caminham viajantes solitários ou, por vezes, bandos alegres e ruidosos e todos, ao passarem, deixam rastros e restos, pistas e partes, com seus pés marcam o trajeto e, com suas mãos, alargam a passagem. Há quem desista logo, quem caminhe um pouco mais e quem, arduamente, chegue até o final, para só então descobrir que este fim bem pode ser só o começo” . (PHILIPPINI, 2001)
Ao utilizar a arte do mosaico, assim como brincar com um jogo de quebra cabeça, estamos permitindo que nossa capacidade de análise e síntese, de composição e decomposição seja desenvolvida de forma mais integrativa, mais harmônica e mais sutil relacionando o todo com o nosso modo de viver a vida.
Esse jogo de encontrar a peça certa arranjando as cores em um novo suporte é uma arte muito antiga, vinda desde os tempos longínquos da Babilônia onde o azulejo – pedra pequena em árabe – feito de terra cozida era utilizado para contar a história de um povo.
Procurar encaixar a peça no lugar certo para obter um resultado diferente e criativo traz um bem estar, uma alegria muito grande. E essa alegria, essa brincadeira, esse jogo de achar e perder são as possibilidades de nos reconhecermos como pessoa, parte integrante dentro de um grande universo.
O espaço que damos a cada pedaço, ao colar uma peça, sinaliza o nosso próprio “espaço”, ora muito distantes, ora muito junto. Por que será que este caco está tão longe do outro? O que quero juntar? O que quero deixar mais longe, mais separado? São indagações que podem ser clarificadas quando vivenciadas, buscando a essência da vida.
Finalmente o momento do RE-JUNTAR – juntar de novo – recompor o que havia sido “quebrado”. É a percepção de toda trajetória vista agora por inteiro, possibilitando a organização mental das sensações, a reintegração das experiências vividas, mostrando as características e qualidades pessoais, arranjadas na obra concretizada.

Trabalhando com essa técnica estamos envolvendo a tripolaridade do ser humano: motora - nos seus aspectos orgânicos - quando quebramos as peças em muitos pedaços, quando nosso corpo reage a tensões mais fortes; cognitiva – ampliando os conhecimentos sobre os objetos, levando em consideração aquilo que eu já sei a respeito do material e interagindo com ele; emocional – resignificando os fragmentos em novas formas, refletindo intensas modificações no nosso estado afetivo.
A criação, a livre expressão de símbolos ou imagens, referem-se a aspectos psicológicos internos, que, como Piaget escreve, produz a energia necessária ao funcionamento da cognição:
“ A expressão será a exteriorização da personalidade. Efetua-se através do jogo simbólico, realizando desejos, a compensação, a livre satisfação das necessidades subjetivas” (1961).

ATENÇÃO: esse texto é parte da apostila “Cola Caco: A Arte do Mosaico” elaborada por Cris Piloto, que está registrada no Escritório de Direitos Autorais da Fundação Biblioteca Nacional, como obra de categoria didática, sendo registrada pela Lei nº 9610, de 19 de fevereiro de 1998.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Ficaram interessantes os trabalhos das oficinas dos dois grupos: Pós Graduação (UCAM - Ipanema) e da Formação. Bjs Carol (sua aluna dos dois cursos).

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