"Por fora, a gravidez é uma beleza. Por dentro, é uma guerra ambígua entre dois corpos. Ao mesmo tempo que disputam os mesmos nutrientes, um precisa do outro. Afinal, sem corpo da mãe, o feto não nasce e, sem o feto, a mãe não leva adiante seus genes.
Mas há um momento em que essa luta se acirra: depois do 6º mês de gravidez. Nesse estágio, o feto já tem mais de 1 quilo e ocupa tanto espaço que a mãe sente dificuldade para respirar, fortes dores nas costas, azia, inchaço nas pernas, incontinência urinária. Se fosse um parasita qualquer, o corpo da mãe se livraria dele. Como, então, garante mais 3 meses no útero? Enganando sua mãe.
Nesse momento, claro, o bebê não pode usar palavras para atingir seus objetivos. Mas parte sem problemas para a linguagem química dos hormônios, explica Robert Trivers, pai da sociobiologia moderna e professor de antropologia e ciências biológicas da Universidade Rutgers, EUA.'No último trimestre, há uma mudança chocante do controle das principais variáveis de sangue da mãe - batimento cardíaco, nível de glicose no sangue e distribuição do sangue no corpo', explica Trivers. Normalmente essas variáveis estão sob o controle dos hormônios maternos, mas no terceiro trimestre o controle passa para o feto, que produz substâncias iguais ou muito parecidas, em concentrações centenas ou milhares de vezes mais altas.
A função do hormônio é realizar a comunicação entre diferentes partes de um indivíduo. Serve para mudar o comportamento do corpo da mãe de acordo com seus próprios interesses que, por meio da placenta, o feto joga na corrente sanguínea materna esses hormônios. O corpo da mãe, por sua vez reconhecerá esses hormônios como se fossem seus. É assim que o filho inicia sua primeira campanha para enganar a mãe em benefício próprio".
da Revista Super Interessante - dezembro de 2012
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