segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

CASA DAROS

A Casa Daros, um espaço dedicado à arte, à educação e à comunicação, abriu suas portas em 2013. Está situada em um casarão centenário tombado pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Há sete anos, um grupo suíço que vem desenvolvendo uma das mais significativas coleções de arte contemporânea latino-americana, a Daros Latinamerica, entrava neste casarão e se encantava pelo local.  A coleção vem sendo constituída desde 2000 por meio do encontro com artistas e da escuta das questões históricas e sociais, das ânsias locais e territoriais. Hoje, com mais de mil e duzentas obras de 116 artistas, é robusta na sua multiculturalidade.
O Grupo de Estudo dos interessados em Arteterapia (GEIA)  visitou a Casa Daros e apreciou a exposição do argentino Julio Le Parc. A exposição apresenta as obras cinéticas, com ênfase na preocupação do artista com as alterações da luz. A maioria das obras é dos anos 1960.
Confira a visita nas fotos.




domingo, 16 de fevereiro de 2014

PARA QUÊ SERVEM AS MÁSCARAS?


O homem criou formas mágicas, míticas, ritualistas e lúdicas durante a noite dos tempos e escondia-se através de disfarces que se chamam máscaras. Depois atravessou o Neolítico formando ciclos agrários ou sazonais, quando já domesticava a planta, o animal e sabia queimar a terra que moldava para o seu vasilhame, e assim continuou através da História.
Para a mais perfeita expressão, esse homem aperfeiçoou os caracteres estéticos da máscara; individualizou a sua fabricação, segundo o uso ao qual era destinada; estudou o seu impacto no grupo social a que pertencia o mascarado; e adaptou as máscaras aos diversos aspectos das forças sobrenaturais e demoníacas que julgava descobrir e conhecer. Deste modo, criou uma variada morfologia entre as diversas culturas que se multiplicaram.
Estes vários aspectos em consideração têm-se prolongado desde as suas origens, pelos "primitivos atuais", até aos animistas persistentes dos nossos dias, em África, Oceania e nas Américas.
Porém, no mundo contemporâneo dos cinco continentes apareceram outras máscaras sem aquele sentido primitivo, baseado nas suas origens longínquas.
Por isso, os etnólogos consideram atualmente as máscaras universais em três grandes grupos, segundo a simbologia,a funcionalidade lúdica e o esvaziamento do seu conteúdo original.
Num primeiro grupo classificam as máscaras de todas as culturas que estejam apenas integradas na própria cultura e sociedade que lhes deram origem e se combinem com o seu objetivo, a sua expressão e a impressão e aceitação sociais.
Neste sentido, cada tipo de máscaras não existe em si mesmo como sendo objeto separado dos seus contextos sociais e culturais. Por isso,neste grupo as máscaras só se consideram autênticas em função das mensagens que nos transmitem, devendo atestar a onipresença do sobrenatural que pretendem representar e dos mitos que nos querem transmitir.
O segundo grupo reúne as máscaras referentes ao espetáculo, por se terem desviado da sua primitiva função, desde a Grécia antiga, passando pela Civilização Romana e atravessando a Idade Média e outras Idades da História até aos nossos dias. As máscaras deste grupo representam apenas uma personagem precisa e a sua estética resulta de normas bem definidas, viradas para o espetáculo ou ambiente lúdico em primeiro lugar.
Um terceiro grupo é chamado grupo das "máscaras falsas", por terem perdido todo o sentido original,mostrando apenas uma aparência da tradição dos povos que tentam representar,mas apenas para serem vendidas aos turistas. São máscaras esvaziadas dum conteúdo contextual quanto à cultura que teimam representar e à sociedade donde são originárias.

Na psicologia analítica junguiana, as máscaras estão diretamente ligadas ao conceito de Persona, com a função de anunciar aos outros como tal pessoa deseja ser vista. “Como máscara, o arquétipo da Persona diz respeito principalmente ao que é esperado socialmente de uma pessoa e à maneira como ela acredita que deva parecer ser. Trata-se de um compromisso entre o indivíduo e a sociedade.” (GRINBERG, 1997)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

BELA ADORMECIDA

Contos de Fada

(valioso recurso pedagógico e terapêutico)
Sleeping-Beauty
A imagem ideal para a alma da criança dos 2 aos 7 anos, que possibilita a construção de sentidos no mais íntimo do ser dos pequeninos.
Sua origem remonta a pré-história, na primeira infância da humanidade. As imagens contidas nos Contos de fadas são grandiosas, amplas, possuem uma unidade, uma integração. Têm uma característica circular, sem ordenação de começo, meio e fim. Adequadas para esta fase em que a criança sente-se una com o mundo, ela e o mundo circundante são uma única coisa.
Seus personagens e conteúdos são modelos que servem para todas as culturas de maneira generalizada, mas que ajudam o indivíduo a descobrir-se a si mesmo. Devem ser oferecidos às crianças a partir dos 3 anos, quando começam a dizer: “EU”, numa atmosfera de penumbra, durante várias semanas, o mesmo conto, para que possam elaborar as imagens em seu mundo interior.
“Os contos de fadas são, segundo Rudolf Steiner, um tesouro espiritual da humanidade. Fruto de vivências primordiais da existência humana, sua atuação tem um efeito inconsciente na alma ao resgatar, por meio de imagens significativas, o longo percurso do amadurecimento humano na Terra.
Não se limitando a reproduzir eventos individuais, sua narrativa relata imageticamente o suceder de fatos comuns a todos os homens, caracterizando sagas que cada qual pode reconhecer inconscientemente como sua própria, independentemente da idade ou situação em que se encontre.”
 Vamos utilizar o conto da Bela Adormecida como exemplo:
 A Bela Adormecida nasce e são convidadas doze fadas para a festa. Cada qual possui seu pratinho de ouro. Reparem no arquétipo doze. Por que doze? Existem muitos segredos por trás do doze…
Doze Constelações do Zodíaco
Doze Notas Musicais
Doze sentidos (vide a Antroposofia)
Doze apóstolos
Doze chackras
Doze qualidades anímicas:
Onze fadas concedem virtudes (talentos) à criança. Faltando apenas a mais nova. Mas então aparece a décima terceira fada – que há muito tempo não aparecia no reino e fica furiosa por não ter seu pratinho de ouro, não ter sido convidada. Então roga uma praga para a criança.
Esta é a oportunidade oferecida pela sombra – todo desenrolar da história depende desta maldição. Tem relação direta com o trabalho que estamos realizando como auto desenvolvimento na Humanidade hoje, estamos construindo nosso décimo terceiro prato de ouro, uma nova capacidade…
“Com quinze anos ela irá furar o dedo em uma roca e morrerá!!!”
A fada mais nova, que ainda não havia concedido seu presente à criança, ameniza a situação – “Ela não morrerá, mas cairá em sono profundo por 100 anos”. Bom, os pais de Bela Adormecida mandam queimar todas as rocas do Reino. Aos 15 anos, durante a ausência dos pais, a menina sobe a torre e encontra uma velha fiandeira tecendo em sua roca. Espeta o dedo e mergulha em sono profundo…
Por que os pais não estavam em casa, sendo que sabiam da maldição e ela estava com seus 15 anos?
Bom, aos 15 anos a criança entrou na puberdade, onde realmente se vê separada de seus pais como uma entidade individual, que possui sua própria individualidade, seu próprio pensar…
Por isso os pais não estão presentes. Até a puberdade, a criança vive sua família, são como que uma coisa comum, não consegue se ver separada de seus pais, sozinha.
Mas na adolescência quer buscar sua autonomia e explorar a Torre. A torre seria seu templo, seu corpo físico e suas capacidades individuais. Lá encontra a velha fiandeira. O fiar está relacionado ao pensar. Quando ela mergulha em seu pensar individual – mergulha no sono profundo de 100 anos.
Este mergulho no sono profundo é nossa separação do mundo espiritual através do pensar. Até então estamos plenos de confiança, guiados por uma força inconsciente, seguindo o fluxo da vida como dádiva divina. Mas neste momento surgem todas as questões inerentes do ser humano.
Qual é a minha Busca? Quem sou Eu? Qual o sentido da Vida? Qual é o meu Destino?
Esta é a Busca pelo nosso décimo terceiro prato de ouro.
É a oportunidade que nos é dada pela Vida, como o Conto é uma oportunidade oferecida pela Décima Terceira Fada, que é a mais velha, portanto, é a mais profunda busca…

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Iemanjá - 2 de fevereiro



No dia 02 de fevereiro é comemorado o dia de Iemanjá, figura presente em diversas músicas, telenovelas, livros e cantigas populares. Você sabe, afinal, quem é Iemanjá? Preparamos um especial sobre esse tema. Boa leitura!
Os nomes são diversos, mas referem-se à mesma entidade: Yemanjá, Yemanjá, Yemaya, Iemoja, Yemoja ou, em português, Iemanjá, nomes dados àquela que é um orixá africano, cujo nome deriva da expressão “Yèyé omo ejá”, que significa “mãe cujos filhos são peixes“.
No Brasil, Iemanjá goza de grande popularidade entre os seguidores de religiões afro-brasileiras, e até por membros de religiões distintas. Todo dia 2 de fevereiro, em Salvador, acontece uma das maiores festas do país em homenagem a essa que é considerada a “Rainha do Mar”.
A celebração envolve milhares de pessoas que, trajadas de branco, saem em procissão até ao templo-mor, localizado próximo à foz do rio Vermelho, onde oferendam uma grande diversidade de coisas, como espelhos, bijuterias, comidas, perfumes e toda sorte de agrados.

As Sete Maravilhas da Idade Média.


Existem muitas listas sobre 7 maravilhas do mundo. Algumas apontam as maravilhas da Idade Média ou do Mundo Medieval. São elas:
O COLISEU DE ROMA.
Monumento também chamado de Anfiteatro Flaviano, situado em Roma, na Itália.

 A MURALHA DA CHINA.
Também chamada de Grande Muralha, é uma gigantesca estrutura de arquitetura militar construída na China, durante o Império.

A BASÍLICA DE SANTA SOFIA.
Também conhecida como Hagia Sophia, imponente edifício do Império Bizantino, feito para ser a catedral de Constantinopla, atual Istambul, na Turquia.

STONEHENGE.
Monumento megalítico da Idade do Bronze, situado na planície de Salisbury, próxima a Amesbury, no condado de Wiltshire, sul da Inglaterra.


CATACUMBAS DE KOM EL SHOGAFA.
Sítio arqueológico histórico situado em Alexandria, no Egito.


TORRE DE PORCELANA DE NANQUIM.
Também conhecida como Bao’ensi (Templo da Gratidão), sítio arqueológico histórico localizado ao sul do rio Yang-Tsé, em Nanquim, na China.


TORRE DE PISA.

Torre projetada para abrigar o sino da catedral da cidade de Pisa, na Itália, famosa por sua inclinação.




Chamo a atenção para a Torre de Porcelana de Nanquim, construída na dinastia Ming, onde mais de 100 mil trabalhadores foram convocados por decreto imperial para trabalhar neste templo. A torre  tinha 80 metros de altura, com paredes de tijolos de porcelana branca enviados da fábrica imperial em Jingdezhen. Havia 72 arcos feitos com ladrilhos coloridos. A telha é um exemplo típico do estilo exuberante de entalhes e da decoração policromática. Consumiram-se cerca de 1,2 milhão de quilos de prata na construção do templo, completamente destruído em 1854, durante a rebelião Taiping.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

A Jornada do Herói

PUER-SENEX NA PSICOLOGIA MASCULINA





Qual será o caminho da criatura humana? Carl Gustav Jung nos responde a esta pergunta com o conceito de PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO. Ele chamou assim ao processo natural, espontâneo e autônomo, completamente independente de nossa vontade consciente,(há contradições nesta abordagem. J.J. Clark coloca em seu livro: Em Busca de Jung, pág.202; "...o caminho da auto-realização exige a colaboração ativa do ego consciente, sendo, pois uma questão de opção moral e vontade. A individuação não é algo que aconteça automaticamente à pessoa, mas deve ser buscada e conquistada com esforço, ´como um ato de grande coragem praticado na vida", eu concordo com ele. O processo de Individuação é para o Ego, não pode ser inconsciente se não é irreal, não realiza o si-mesmo, virá um complexo, aí o indivíduo é tomado pelo complexo do Self mas não individua...tb não acontece com todos porque é um arquétipo e precisa ser vivenciado conscientemente através do confronto com a imagem arquetípica ou Imago Dei, com a participação ativa do ego, que é quem realiza o Processo portanto jamais poderá ser espontâneo, sem a colaboração do Ego.) que acontece com todos nós, desde que nos permitamos à transformação natural dos processos de desenvolvimento, crescimento e morte. Nesse caminho, o Ego deve tornar-se flexível o suficiente para libertar-se dos seus paradigmas e ficar aberto ao fluxo criativo do inconsciente, a fim de que este se realize. Dessa forma poderemos contemplar as novas idéias e possibilidades  que emergem do lado obscuro de nossa mente.
O Ego, considerado por Jung como o regente da consciência, tem um papel fundamental para definir os níveis de maturidade de um indivíduo. Por meio do diálogo com o inconsciente, intermediado pelas imagens simbólicas, vai-se atravessando camada por camada deste nosso substrato psíquico, encontrando representações cada vez mais sutis, menos pessoais, até chegarmos à essência, à primeira camada - o Self, arquétipo da totalidade, do equilíbrio e da unidade, que corresponde ao nosso centro conectado com todo o cosmo.  Seguir o caminho da individuação necessita de um Ego que estabeleça uma boa relação com o Self, e esta poderá ser projetada em uma comunicação satisfatória do homem com o seu deus.
O conteúdo do inconsciente, para ser uma realidade na percepção do Ego, precisa tornar-se imagem. Essa imagem traduz uma experiência humana eterna na espécie e ganha a forma de Símbolo Arquetípico. Este guarda um padrão e, ao mesmo tempo, expressa a sua singularidade por meio da imagem. É como os nossos dedos, ou seja, os humanos nascem com dedos(esse é o padrão), mas estes são sulcados por impressões digitais(essa é a imagem) bem singulares, de modo a não se encontrar dois indivíduos iguais.
Para considerarmos o processo de individuação nos seres humanos do gênero masculino, vamos refletir sobre o par de opostos puer-senexPuer é a fixação na infância, enquanto senex refere-se à fixação na velhice. Não poderíamos deixar de nos referirmos aqui à relação puer-senex com a temporalidade. Para o Hinduísmo o mundo é uma ilusão, e o tempo um fator que nos engana ao ponto de acreditarmos apenas no ego e nas coisas palpáveis. Por isso, nos iludimos com a irreversibilidade do tempo e, não percebemos a circularidade dele muito bem representada em mitos antigos. Assim, no ego, o tempo se comporta se desdobrando apenas em uma única direção, sem nos darmos conta da reedição de eventos passados, propiciando a separação cronológica clara da condição puer e senex. No entanto, na estrutura psíquica do inconsciente, vivemos o tempo da circularidade, consequentemente, a história será sempre a reedição de algum evento do passado. É o eterno retorno, sem início nem fim. Nesse caso último, as dimensões puer e senex serão vividas perpetuamente retornando sobre si mesmo sem o antes e o depois.
Percebemos que o sujeito, no caminho da individuação, precisa rever os ciclos de sua alma. O homem precisa estabelecer relações com o seu centro - ou com Deus - e então enfrentar o desafio de saber lidar com a sua alma - ou anima - como chamou Jung. Para isso, precisamos aceitar o fechamento dos nossos ciclos de tempo. É preciso morrer para o antigo, e renascer para o novo, em um contínuo processo criativo. Quando aceitamos a mudança, conseguimos abandonar o passado de forma criativa, porque dele emergem novas possibilidades de atuação no futuro. Fechamos portas para que possamos renascer.
O homem tomado por cronos, pelo senex devorador e tirano(pois é...eu acredito que todo arquétipo tem seu lado positivo e negativo, assim, o senex Tb tem o lado sábio...tudo depende da pré-disposição da consciência para atrair um ou outro pólo, esta pode ser uma grande chance do indivíduo transformar este complexo em algo muito positivo) , amedrontado com o tempo, se arma de mecanismos que o faz isolar-se da alma e deixá-la com dificuldades para expressar-se. Deus, em sua insistência, faz com que ele sinta a necessidade desse contato por meio de uma linguagem que o homem moderno tem mais dificuldade em entender. A linguagem dos símbolos que une os opostos passa a ser substituída pelo seu contraponto que é o diábolos, ou seja, o contrário do símbolo, aquilo que desune. Assim, o diabo faz o seu papel de alquimista junto com Deus.
Ao experimentarmos uma relação significativa com o outro, mobilizamos as figuras interiores que habitam adormecidas o mundo misterioso da psique humana. Essas figuras aspiram a existir e agir.  Ao acontecer esse fenômeno, assistiremos ao papel dos símbolos em nossa transformaçào. Tornar-se-á símbolo, a imagem que permita a relação do Ego com os conteúdos do inconsciente.
O homem ao amadurecer, encontra dentro de si mesmo o seu aspecto Puer. Porém, se o Ego não consegue manter essa experiência por meio da atitude da consciência introvertida, o mundo lá fora lhe pregará peças e, ai aparecerão as relações assimétricas e, consequentemente, perderá todo o encanto cedendo lugar às crises. Essas crises poderão levar o sujeito a melhorar a qualidade de sua vida, ou sucumbir na loucura, ou mesmo na morte literal. Para exemplificar essas três possibilidades vejamos as histórias a seguir:
No filme "D. Juan De Marco" o personagem vivido por Marlon Brando se apresenta como um psicólogo às vésperas da sua aposentadoria, sendo designado para salvar um jovem suicida que se identifica como D. Juan. No topo de um guindaste, o psicólogo trava um diálogo de identificação com os delírios de D. Juan e este desiste do suicídio. Daí em diante D. Juan passa a ser um objeto de transformação daquele homem que agora ativa o Puer esquecido nas regiões mais abissais do seu mundo desconhecido. Aquele homem, pesado, sem mais os encantos da vida, psicólogo maduro, com a missão de resolver o problema do jovem D. Juan, tornando-se  leve, sedutor, vivendo a beleza interior. Essa mobilização no seu mundo interior o faz viver a alegria de um Puer (quem disse que o senex não tem esta alegria, leveza e sedução? Nem todo velho é chato como tantos que conhecemos, o John Burns tem esta coisa do senex leve, sedutor, dançarino e feliz...há veja Tb o livro da Gióa: Caminho Ancestral)que dança com a sua amada, desfazendo o feitiço do tempo que lhe havia retirado todo o encantamento.
O confronto do Puer, que quer olhar para fora, com o Senex, querendo olhar para dentro, gera então o campo de batalha na psique, muitas vezes se equilibrando nas próprias ilusões em que as Dulcinéias e os Tadzios podem surgir por todos os lados, dificultando uma melhor relação com o seu centro. Aqui eu lembro as histórias "D. Quixote de La Mancha" e o romance "Morte em Veneza".
Na conhecida história de Cervantes, D. Quixote, um homem maduro(este sim um Puer, totalmente tresloucado e inconsciente, tomado pelas imagens inconscientes), vive toda a dimensão de sua fantasia projetada no mundo externo, transformando qualquer objeto em espelho de sua alma e, assim, vive o herói lutando e vencendo batalhas que nada mais são que Moinhos de Vento, em busca de sua amada Dulcinéia, imagem de anima com poderes de trazer a graça a partir de qualquer tipo de senhora que esteja ao alcance dos seus sentidos iludidos por essa força. Seu auxiliar, o Sancho Pança, como sua função inferior, o mantém em sua tarefa de iludir-se e viver a unidade do sujeito com o objeto (Participation Mystique).
No famoso romance de Thomas Mann, Morte em Veneza, o maduro Aschenbach não consegue vencer o confronto com o púbere Tadzio que espelha o Puer que habita o mundo interior daquele homem maduro dando-lhe forças descomunais, sendo possível devorar o Senex, ou seja, o confronto Puer e Senex resulta na morte, símbolo do fechamento de um ciclo. Aschenbach ao perceber Tadzio no saguão do hotel, logo em sua chegada, torna-se obcecado pelo moço, mas qualquer ação concreta é, para ele, totalmente inimaginável. A partir daí, tenta o artifício externo de fazer contato com a sua jovialidade, utilizando-se de um barbeiro que pinta os seus cabelos brancos, para no final, numa cena triste: um homem morrendo e perdendo de vista o objeto que ativou toda a fúria dessa organização emocional que traduzia a juventude perdida.
Assim, podemos ver nos três exemplos, como aconteceram as relações puer-senex na psique masculina. Na história de D. Juan o homem com sua alma madura experimenta a força da ativação de sua alma jovem, obtendo a sua transformação. Na história de D. Quixote a razão é perdida para que haja a experiência interior transformando a camponesa em uma poderosa anima para um admirado herói, como muitos homens maduros que perdem sua estrutura de família e se lançam na busca desenfreada de um mundo fantasioso e inexistente para as dimensões práticas da existência. No romance de Thomas Mann, o esforço entre a ética e as necessidades impróprias resultantes do confronto puer-senex, põe fim a uma questão insolúvel, ou seja, não foi possível a harmonia entre esses opostos e a solução foi a dissolução.
Na verdade, sustentar a tensão entre os opostos deus-diabo, puer-senexcronos-aion, rítmo-repouso, criação-destruição, etc., é uma jornada épica para transcender o caos e a ordem, depois de percebê-los indissociáveis. Ou seja, que um não surge sem o outro, assim como a felicidade não existe sem a infelicidade. Essa é a condição de nos libertarmos da necessidade de saber o que é certo e o que é errado e a aceitar que ambos são verdadeiros. A magia consiste em optar por todos eles.
PROF. CARLOS SÃO PAULO é médico, analista junguiano, professor do IJEP e fundador do IJBA