O romantismo foi um movimento artístico ocorrido na Europa por volta de 1800, que representa as mudanças no plano individual, destacando a personalidade, sensibilidade, emoção e os valores interiores.
Atingiu primeiro a literatura e a filosofia, para depois se expressar através das artes plásticas. A literatura romântica , abarcando a épica e a lírica, do teatro ao romance, foi um movimento de vanguarda e que teve grande repercussão na formação da sociedade da época, ao contrário das artes plásticas, que desempenharam um papel menos vanguardista.
A arte romântica se opôs ao racionalismo da época da Revolução Francesa e de seus ideais, propondo a elevação dos sentimentos acima do pensamento.
CARACTERÍSTICAS DO ROMANTISMO
Grande é o número de características que marcaram o
movimento romântico, características essas que, centradas sempre na valorização
do eu e da liberdade, vão-se entrelaçando, umas atadas às outras, umas
desencadeando outras e formando um amplo painel de traços reveladores.
Para aqui discuti-las, vamos seguir os aspectos
considerados os mais significativos por Domício Proença Filho em sua análise
dos estilos de época na literatura. [1]
1. Contraste entre os ideais divulgados e a
limitação imposta pela realidade vivida. O universo conhecido se alarga, o
Século das Luzes deixa um rastro de anseios libertários, desloca-se o centro do
poder; a dependência social e econômica, a inconsciência, o desconhecimento
estabelecem para a imensa maioria, no entanto, uma existência marcada por
limitações de toda ordem.
2. Imaginação criadora. Num movimento de
escapismo, o artista romântico evade-se para os universos criados em sua
imaginação, ambientados no passado ou no futuro idealizados, em terras
distantes envoltas na magia e no exotismo, nos ideais libertários alimentados
nas figuras dos heróis. A fantasia leva os românticos a criar tanto mundos de
beleza que fascinam a sensibilidade, como universos em que a extrema emoção se
realiza no belo associado ao terrificante (vejam-se as figuras do Drácula, do
Frankstein, do Corcunda de Notre Dame e a ambiência que os rodeia).
3. Subjetivismo. É o mundo pessoal,
interior, os sentimentos do autor que se fazem o espaço central da criação. Com
plena liberdade de criar, o artista romântico não se acanha em expor suas
emoções pessoais, em fazer delas a temática sempre retomada em sua obra.
4. Evasão. O escapismo romântico
manifesta-se tanto nos processos de idealização da realidade circundante como
na fuga para mundos imaginários. Quando acompanhado de desesperança, sucumbe ao
chamado da morte, companheira desejada por muitos e tema recorrente em grande
número de poetas.
5. Senso de mistério. A valorização do
mistério, do mágico, do maravilhoso acompanha a criação romântica. É também
esse senso de mistério que leva grande número de autores românticos a buscar o
sobrenatural e o terror.
6. Consciência da solidão. Conseqüência do
exacerbado subjetivismo, que dá ao autor romântico um sentimento de inadequação
e o leva a sentir-se deslocado no mundo real e, muitas vezes, a buscar refúgio
no próprio eu.
7. Reformismo. Esta característica
manifesta-se na participação de autores românticos em movimentos contestadores
e libertários, com grande influência em sua produção, como foi a campanha
abolicionista abraçada por Castro Alves e o movimento republicano assumido por
Sílvio Romero.
8. Sonho. Revela-se na idealização do
mundo, na busca por verdades diferentes daquelas conhecidas, na revelação de
anseios.
9. Fé. É a fé que conduz o movimento:
crença na própria verdade, crença na justiça procurada, crença nos sentimentos
revelados, crença nos ideais perseguidos, crença que se revela ainda em
diferentes manifestações de religiosidade cristã – fé. Não se pode esquecer a
profunda influência do medievalismo na construção do mundo romântico, dele
fazendo parte a religiosidade cristã.
10. Ilogismo. Manifestações emocionais que
se opõem e contradizem.
11. Culto da natureza. A natureza adquire
especial significado no mundo romântico. Testemunha e companheira das almas
sensíveis, é, também, refúgio, proteção, mãe acolhedora. Costuma-se afirmar
que, para os românticos, a natureza foi também personagem, com papel ativo na
trama.
12. Retorno ao passado. Tal retorno deu
origem a diversas manifestações: saudosismo voltado para a infância, o passado
individual; medievalismo e indianismo, na busca pelas raízes históricas, as
origens que dignificam a pátria.
13. Gosto do pitoresco, do exótico.
Valorização de terras ainda não exploradas, do mundo oriental, de países
distantes.
14. Exagero. Exagero nas emoções, nos
sentimentos, nas figuras do herói e do vilão, na visão maniqueísta a dividir o
bem e o mal, exagero que se manifesta nas características já listadas.
15. Liberdade criadora. Valorização do
gênio criador e renovador do artista, colocado acima de qualquer regra.
16. Sentimentalismo. A poesia do eu, do
amor, da paixão. O amor, mais que qualquer outro sentimento, é o estado de fruição
estética que se manifesta em extremos de exaltação ou de cinismo e
libertinagem, mas sempre o amor.
17. Ânsia de glória. O artista quer ver-se
reconhecido e admirado.
18. Importância da paisagem. A paisagem é
tecida de acordo com as emoções dos personagens e a temática das obras
literárias.
19. Gosto pelas ruínas. A natureza
sobrepõe-se à obra construída.
20. Gosto pelo noturno. Em harmonia com a
atmosfera de mistério, tão próxima do gosto de todos os românticos.
21. Idealização da mulher. Anjo ou
prostituta, a figura da mulher é sempre idealizada.
22. Função sacralizadora da arte. O poeta
sente-se como guia da humanidade e vê na arte uma função redentora.
Acrescentem-se a essas características
os novos elementos estilísticos introduzidos na arte literária: a valorização
do romance em suas muitas variantes; a liberdade no uso do ritmo e da métrica;
a confusão dos gêneros, dando lugar à criação de novas formas poéticas; a
renovação do teatro.
[1]
PROENÇA FILHO, Domício. Estilos de época
na literatura. 15 ed. São Paulo: Ática, 1995, p. 216-227
Nenhum comentário:
Postar um comentário