O adulto também pode brincar e interagir criativamente, dando outra dimensão a seu trabalho, guardando para as crianças a sucata de seu cotidiano.
A sucata carrega uma mensagem
psicologicamente construtiva: pois, de maneira simbólica ou por analogia,
poderemos lidar internamente com o nosso “lixo” também, usando as partes que
não nos agradam para dizer coisas, para fazer , e para ser mais integralmente. Para
as crianças, isso se dá de maneira menos pensada, mais inconsciente, e num
movimento lúdico no qual a sucata é um “nada” que pode vir a ser um “tudo” .
Quando a criança tem a espontaneidade
da brincadeira com sucata, ela está exercendo sua capacidade de escolha e a liberdade para utilizar o material que escolheu , como
queira . É mais fácil dar essa liberdade com materiais de sucata do que com os
brinquedos comprados.
Ao brincar, a criança pensa, reflete e
organiza-se internamente para aprender aquilo que ela quer, precisa, necessita,
está no seu momento de aprender. A brincadeira verdadeiramente espontânea, que
traz consigo a energia criativa, a possibilidade do novo e do original, é
aquela que surgiu da própria criança, que escolheu brincar disso e não daquilo,
que inventou seu brinquedo com uma sucata, que organizou seus brinquedos não
comercializados, que arrumou seu espaço e que elaborou regras para o jogo... e
isso implica uma atitude por parte do adulto, com um modo de ser mais
tranqüilo, relaxado, liberal, que não atropele a criança.
Se o adulto é capaz de deixar a criança
fazer suas próprias descobertas, já teremos meio caminho andado: se não estamos
impondo o nosso imaginário e estamos respeitando o imaginário de nossos filhos
e alunos, saberemos também deixar que decidam do que brincar, com que brincar,
como brincar e para que brincar?
“É no brincar, e talvez apenas no brincar
que a criança ou adulto fruem da sua liberdade de criação”. ( WINNICOTT, p. 79)
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