quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O POTE RACHADO ( conto popular hindu adaptado)


Um carregador de água na Índia levava dois potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de uma vara a qual ele carregava atravessada em seu pescoço.
            Um dos potes tinha uma rachadura, enquanto o outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no fim do  longo caminho entre o poço e a casa do chefe; o pote rachado chegava apenas pela metade. Foi assim por dois anos, diariamente, o carregador entregando um pote e meio de água, na casa de seu chefe.

Água,  fonte de vida e meio de purificação; Símbolo de expansão, fluidez, frescor e relaxamento; água como facilitadora da ativação da função psicológica sentimento.

Claro, o pote perfeito estava orgulhoso de suas realizações. Porém, o pote rachado estava envergonhado de sua imperfeição e sentindo-se miserável por ser capaz de realizar apenas a metade do que havia sido designado a fazer.
 Após perceber que por dois anos havia sido uma falha amarga, num dia de verão de sol forte, o pote falou para o homem , um dia à beira do poço,
Estou envergonhado e quero pedir-lhe desculpas.
 Por quê? Perguntou o homem.
De que você está envergonhado?
Nesses dois anos eu fui capaz de entregar apenas a metade da minha carga, porque essa rachadura no meu lado faz com que a água vaze por todo o caminho da casa de seu senhor. Por causa do meu defeito, você tem que fazer todo esse trabalho, não ganha o salário completo dos seus esforços e ainda tem que suportar esse calor imenso como fogo queimando seus miolos, disse o pote.

Fogo,  que é luz, vida, paixão. Que queima e aquece, que dá cor, brilho e alegria. Fogo que transmite sensualidade; que ilumina mas pode também destruir e causar medo. Fogo da intuição.

 O homem ficou triste pela situação do velho pote e com compaixão falou:
Quando retornarmos para a casa de meu senhor, quero que percebas as flores ao longo do caminho.
 De fato, à medida que eles subiam a montanha, o velho pote rachado notou as flores selvagens ao longo do caminho, balançando na brisa deliciosa daquela manhã, daquele vento fazendo-as dançar e isto lhe deu certo ânimo.

 Vento, ar, símbolo de liberdade e expansão, comunicação e criação; o ar como símbolo de percepção de si mesmo e de permitir a troca com o outro. Ar, ligado ao pensamento racional e fantasioso.
 
Mas ao fim da estrada, o pote ainda se sentia mal porque tinha vazado a metade, e de novo pediu desculpas ao homem por sua falha.
 Disse o homem ao pote:
Você  notou que pelo caminho só havia flores no sei lado . Eu, ao conhecer o seu defeito, tirei vantagem dele. E lancei sementes de flores na terra do seu lado do caminho, e cada dia, enquanto voltávamos do poço, você as regava.

 Terra, que sustenta, nutri e acolhe o ser; terra que permite percepções de sensações e favorece a imaginação criativa; símbolo ligado às raízes e às bases da humanidade, da Grande Mãe.

 Por dois anos eu pude colher estas lindas flores para ornamentar a mesa de meu senhor. Sem você ser do jeito que és, ele não poderia ter esta beleza para dar graça à sua vida.

Cada um de nós temos nossos próprios e únicos defeitos. Todos nós somos potes rachados.
Porém, nunca deveríamos ter medo dos nossos defeitos ou fraquezas. Se os reconhecermos, eles poderão gerar beleza.

Das fraquezas, nossas ou dos outros, podemos tirar forças e engrandecer a humanidade.

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